Milagre

"Olhar a orquídea é ter tempo para a vida, e reconhecer nela o milagre que nos permite caminhar todos os dias", Quaresma..

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Instante

Neste instante
Em que vejo o horizonte
E sua luz de eternidade
Abraço amável a vida
Dada a mim como paradoxo
Ou como graça divina,
Nada muito ortodoxo.

Neste instante
Canto a certeza do hoje
Vivendo com coragem
As esperanças graúdas
Que virão firmes, azuladas
Em constelações noturnas
Com suas luzes infindas, de vida
Que mudam a cada piscar
Dos olhos da inocência.

Neste instante...
A vida floresce
E a música entoa
Seu canto de liberdade
Para as asas tuas
Que desejam voar.
E planando bem alto
Nos céus das verdades
Da justiça sem algema
Encontro o sentido
Do meu poema.

Emerson Quaresma

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Devaneio

.: Goreth imaginou que poderia voar. Era seu sonho, seu devaneio desde criança tola, sempre vigiada pela mãe, pela avó, e até mesmo pela baba.

Aos 18, com a liberdade concedida, naquela noite foi até o térreo do prédio onde morava. Braços bem abertos, ela sentiu frio nas entranhas e desistiu.


Microconto
Emerson Quaresma

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Cândida

Os passos de Cândida cintilavam os olhos parvos de Augusto. Ela tomava o salão como seu, sem perder o ritmo. Mas, mantinha uma postura ambígua.
      Cabeça baixa e distante de si, Augusto não acreditava que aquela figura, esbelta, alta, e de olhos castanhos lhe estendia a mão, sedutora.
      Se viu confuso com a atitude daquela que, aos seus olhos, era a dona da noite no piso amadeirado do salão do Atlético Rio Negro Clube.
      Pensou duas vezes num curto espaço de tempo, e esboçou uma reação de ultraje, pois poderia ser firula das mais grosseiras da parte de Cândida.
      Deu tempo de desistir e desistiu da atitude. Apanhou a mão da dama sob a meia luz, e seguiu por entre os outros pares daquela nave musical.
      Nada muito atlético, tampouco atraente frente a figuras mais encorpadas que estavam naquele lugar, Augusto tentava saber o porquê de ele ser o eleito.
      Apaixonado, trocou poucas palavras com a moça e arriscou ainda gravar o número do telefone dela, que encorajada seguia se divertindo.
      Cinco músicas após o convite, ela pediu uma pausa para ir ao toalete, onde retocaria baton e maquiagem gastas com os beijos trocados com o parceiro.
      Já não era sem tempo. Um tanto cansado ele cedeu aos apelos singelos da amada. Sua confiança e estima estava em alta naquele instante.
      E no lugar onde tinham terminado o último passo fincou os pés. Diáfano para o mundo, copo de caipirinha à mão não viu a noite terminar.
      Também não viu mais Cândida, que desapareceu. Não sabia que ela procurava um par apenas para ter a certeza de que não dançava desengonçada, sozinha.

Miniconto
Emerson Quaresma

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Juventude, políticas públicas virtuais...


          
Poucos políticos apresentam propostas de Políticas Públicas voltadas para a JUVENTUDE. Uma massa de mais de 700 mil no Amazonas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trabalhar com a JUVENTUDE é difícil, do ponto de vista da falta de estrutura para mobilizar, articular e fazer acontecer.

           É claro que, mobilizar JUVENTUDE parece ser mais difícil, por parecer que faltam motivos para isso. Na verdade, não faltam motivos, esses têm de sobra. Na verdade, precisamos fazer a mobilização no sentido de acordar a JUVENTUDE de um sono imposto pelo sistema.

          Pareço até está entrando num discurso de quem viveu a ditadura, mas isso é nada mais que a necessidade de mostrar que vivemos hoje uma ditadura diferente, velada. A sociedade ainda vive os resquícios do sistema de curral, tendo seus olhares voltados apenas para o que lhe mostram.

          A JUVENTUDE que poderia ajudar a mudar essa realidade está também preocupada com o seu primeiro emprego ou como se vestir para a balada da noite. Discutir políticas públicas parece ser perda de tempo num mundo de pão e circo, e de preocupações do dia seguinte.

         Mas, não parar para dizer o que pensa e o que precisa nesse mundo de cão, é não se permitir um novo passo na construção de um dia bom. O período de campanha eleitoral parece ser uma temporada para estratégias rasteiras e de um bando de infelizes dizendo “votem em mim”.

          Penso que a JUVENTUDE pode fazer DIFERENTE. Olhar essa estação como uma oportunidade de lutar por um momento novo, bom, sem muita utopia. Participar do processo é a nossa oportunidade de COMPROMISSAR os senhores políticos com as questões que nos preocupam.

         Vejo que não temos mais motivos de ir às ruas e promover quebra-quebra por um mundo melhor. Temos hoje instrumentos para brigar por isso. O momento é de buscar o DIÁLOGO com quem pode resolver. E se não tem interesse, o descartamos. Se não tem recurso, o ajudamos a encontrar.

         O mais importante é participar do processo como protagonista, e não somente como massa de manobra, de pessoas descompromissadas. É claro que, a luta não acaba no aperto de mão. Ela continua na cobrança, no monitoramento e na vigilância para que a luta valha a pena.

         Penso que devemos caminhar nesse sentido, e desta forma garantirmos o direito de participar da construção das políticas públicas, para que elas sejam reais, e não apenas promessas virtuais.


pensamento nasceu no twitter

terça-feira, 13 de julho de 2010

Espelho

.: Aquela imagem intrigava Carlos. Os traços não eram mais os mesmos de antigamente. O sorriso era mais triste, mesmo sendo aquele o mais alegres dos seus.


Lembrou aos 90, frente ao grande espelho da velha cômoda de mogno original, que os seus 27 passaram há 63, velozes como a vida curta.

Microconto
Emerson Quaresma

domingo, 11 de julho de 2010

Elegia a seleção brasileira

(1º de julho de 2006 - Copa da Alemanha)

Tentei fazer poesia desse meu dia
Mas fui surpreendido pela decepção.
Foi-se a esperança desse instante, a alegria.
No lugar, tristeza, angústia em explosão
Constantemente doendo na minha alma.
Vivi junto com milhões de torcedores essa estação,
Lastimosa, e o contrário do sonho já perdido.

Tentei fazer um poema rimado e perfeito
Todavia, perfeita e complexa é a tristeza
Que envolve a mente carregada e demente
Depois do resultado inacreditável que vi.
Faltou magia, a raça brasileira gigantesca.
Desse jeito não há canção, morre a poesia
E canta-se uma torpe e enfadada elegia.

Um francês roubou o sonho brasileiro,
Mas ele também tinha direito ao sonho.
A esperança de qualquer outra nação
São seus heróis que buscam a vitória
E ela construirá a nova esperança e vida.
Mas o nosso encanto amortalhado foi-se
Rumo a quem se deu por inteiro a luta.

Ps: No final das contas, a Itália
consagrou-se tetracampeã.
Ela também sonhou com isso.

 
Depois do primeiro título mundial da Espanha, lembrei da elegia que fiz quando o Brasil perdeu para a França, na Copa do Mundo de 2006. Uma derrota merecida depois de um jogo pelego, sem raça, sem qualidade. Hoje a Espanha se deu mais em campo que a Holanda, que não deixou por menos durante uma partida, dura, e repleta de vontade por parte de ambas as seleções européias.

Polvo Paul, sucesso na copa, acertou todas.
Torci muito pelas seleções latino-americanas, mas em solo sul-africano não deu. Apenas o Uruguai chegou mais perto. O Polvo Paul acertou. Agora, resta a nós, latino-americanos aguardar a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Até lá o Igor Vinícius Maquiné Quaresma, meu filho estará com sete anos. Eu estarei com mais de 30, caminhando para 31 anos, e a Juliana perto dos 30. Digo isso porque o sentimento é de esperança por dias melhores. Necessário mesmo é manter a vigilância sobre os poderes públicos para que cumpram com seus deveres, na distribuição de direitos.

sábado, 10 de julho de 2010

Estática



.: Passava da hora de voltar. Aquele coração de pedra silenciou Machado, perturbado pela falta de atenção daquela dama, linda e austera, fascinante.

Sem resposta para suas súplicas, Machado desistiu de Carlota e a deixou como a encontrou naquele dia, na praça, estática, sob sol do meio dia.


Microconto
Emerson Quaresma

Nossas mulheres



Movimento de Mulheres do Amazonas

As mulheres de nossas vidas são a representação real do poder fazer, construir e organizar o mundo. Mulheres como Juliana Maquiné (minha esposa), Osvaldina Castro Quaresma (minha mãe), Ivânia Vieira (eterna professora), Luziane Figueiredo (colega de profissão), Socorro Papoula (ativista social), só para citar algumas, são exemplos reais de mulheres com capacidade de gestão na família, no trabalho e na vida.

Desvinculadas de bandeiras partidárias, livres de qualquer pressão dos poderes constituídos, fazem valer a idéia de que é sim possível um mundo mais paritário. Sem as algemas do egocentrismo político dão a demonstração de que vale a pena a luta coletiva, e que é injusto o sistema de sociedade imposto aos homens e mulheres do nosso continente.

Besta somos nós homens, minoria nos censos demográficos brasileiros das últimas décadas, que ainda insistimos em nos manter no poder, no comando das sociedades. Digo isso porque acredito que com elas, ao lado delas, podemos ser melhor na aplicação dos direitos e deveres, na distribuição de renda e na construção e efetivação de políticas públicas.

Infelizmente, a luta delas para chegarem aos postos do alto escalão, e organizarem melhor nossas vidas, ainda é abafada pelo sistema milenar de homens que pregam sua hegemonia. A dificuldade deve estar ainda no pouco tempo da historia que demos a elas para trabalharem por isso. Pior para a humanidade que precisa esperar pelo cuidado e requinte feminino.

Bom que aprendemos muito com essa com essa construção de igualdade e fraternidade entre os gêneros.



PS: Esse poste nasceu depois da leitura do texto “NO AMAZONAS, AS ELEITORAS É QUEM MANDAM”, publicado no Blog do Arnoldo (http://arnoldosantos.blogspot.com), do meu amigo jornalista Arnoldo Santos.

Copa da Alemanha

Brasil x Gana, 27 de junho de 2006

Ah pelota viva bela que me esfria as entranhas.
É a emoção aflorada de um filho da pátria mãe
Ao ouvir, eu estático, a canção desta terra amada
Cantada poeticamente por milhões de vozes tupis.

Mas são vinte e dois pés contras outros 22
Que correrão em busca de um ser mágico,
A obsessão dos heróis de nações apaixonadas.
E ela rola na terra santa gerando esperanças.

É força, raça e vontade de ser dono do vôo
Descobrindo os caminhos mil, face a face.
E surge um drible e a pelota que rola é nossa
E o herói é nosso, o momento é nosso: Gol!

A terra santa se transforma num fronte pacífico
Revestido de histórias tantas e glórias vindouras.
A Alemanha é o lugar destas muitas sagas
E o Brasil enfrenta os Estrelas Negras da África.

O coração palpita e a batalha continua vã, santa,
Doutrinária na filosofia popular: vencer ou vencer?
E os heróis cumprem seus papéis de vitoriosos
Balançando a rede com o ser mágico: a bola.
Ronaldo, Adriano, Zé Roberto e a equipe
Porque a seleção é isso: um sistema que funciona
E emociona os brasileiros.

Ps: O Brasil não passou da fase seguinte.


Roranaldo na Copa do Mundo da Alemanha, em 2006.


O poema que posto nesse dia de hoje, quando assito pela Tv a partida entre Alemanha e Uruguai, nasceu também durante uma copa do mundo, a da Alemanha. Nesse dia de 2006 o Brasil disputou contra uma seleção africana e venceu. Infelizmente, da mesma forma como ocorreru na Copa da África do Sul nossa seleção não conquistou o hexa. Sobre o poema, digo que foi um dos poucos que escrevi sobre futebol, acho, até porque acredito em surpresas. Quem sabe a inspiração venha daqui a pouco, ou somente na Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. Quem sabe, ao ver os poderes públicos conseguindo atender as exigências da Fifa, e desta forma confirmarem Manaus com sub-sede, o poeta acorde novamente e da ponta se sua pena extraia uma nova bela canção sobre a paixão nacional, o futebol..

Suspiro



.: O suspiro final de Carvalho, e as lágrimas e o suor de Tália se confundiram com a poeira daquele chão ressequido. Uma batalha de pele e borracha.

Não houve vencedor. Houve sim, dois perdedores de paixões diferentes que se traiam e o mesmo faziam com aqueles que os esperavam para almoçar.

Microconto
Emerson Quaresma

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A fuga

Mercedes queria o dr. Marcos, mas não sabia usar do segredo da sedução. Ela também tinha uma queda impetuosa pelo enfermeiro Fernando.
No corredor do hospital, calmaria. Fernando surge da enfermaria 9, e deseja com o olhar as curvas de Mercedes. Ela, por sua vez, não percebe.
Mais jovem que a psicóloga, Fernando é insistente, e com prontuário nas mãos se aproxima. Ela suspira com as mãos dele na sua cintura.
É hora do descanso, e dr. Marcos tem um segredo. Ele o confidencia ao almoxarife, que deixa o setor para fumar e pigarrear aos risos do segredo.
Fernando também tinha o almoxarifado como um bom lugar para relaxar. E é lá que a conversa de baixo volume com Marcos parece uma trama.
O convercê dos dois é quebrado pelo ranger da porta que é aberta e fechada segundos depois. A fraca luz se apaga. Os dois são empurrados levemente.
Ao chão, em paralelo, na penumbra da sala, seus botões eram desatados. Calados se deixaram levar pela ferocidade das mãos e boca delicadas.
Noutro plantão dr. Marcos estava de folga. Fernando também. Mercedes sentiu uma mão forte na sua cintura. Não, não era a do enfermeiro.
Surpresa viu que a mão direita era do almoxarife, homem abrutalhado e mais másculo que os dois desejos de Mercedes. Tinha algo na mão esquerda.
Com o polegar pressionou o botão de play. Um vídeo, com luz especial para filmagens no escuro, começou a rodar na tela daquele celular moderno.
Ela não se intimidou com o almoxarife. Falou ao seu ouvido. Sem pressa ele deixou o corredor do hospital com sorriso largo, e desapareceu.
A cena se repete: a porta do almoxarifado é aberta. Desta vez não tem nenhum médico e nenhum enfermeiro dentro daquela sala escura.
Uma mão pesada desce da nuca em direção a abertura da bata de Mercedes. Um forte suspiro é silenciado logo em seguida pela outra mão.
Desnuda, a psicóloga se entrega ao almoxarife. Desta vez ela é a presa. Queria gritar, mas não podia. Então mordeu a mão do outro sem compaixão.
Noutro dia o dr. Marcos a procurou, mas não a encontrava. Fernando perguntou por ela, mas ninguém sabia do paradeiro da psicóloga Mercedes.
Não souberam tão cedo que, o que ela queria tinha encontrado como almoxarife. Os dois partiram mais para o norte, e não deixaram endereço.

Miniconto
Emerson Quaresma

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