Milagre

"Olhar a orquídea é ter tempo para a vida, e reconhecer nela o milagre que nos permite caminhar todos os dias", Quaresma..

sexta-feira, 11 de março de 2011

Poesia. Mas, quem gosta de poesia?

Castro Alvez, poeta brasileiro
Dia 14 de março. Poucos brasileiros sabem que nessa data é comemorado o Dia Nacional da Poesia, uma homenagem ao poeta de 'Navios Negreiros', Castro Alves. Em Manaus, graças a Deus, haverá alguma movimentação, algum sarau de libertação. Mas, quem gosta de poesia? Geralmente os que as escrevem, os poetas que as criam no seu mundo particular e alguns poucos simpatizantes dessa arte.
     Mas, o que seria do mundo de todos nós sem as epopéias épicas de Homero (Odisséia e Íliada) e de Vírgilio (Eneida), sem os sonetos de Camões, sem a poesia lírica saudosista de Fernando Pessoa, sem o romantismo barroco de Pablo Neruda? O que seria também do nosso mundo brasileiro sem movimentos (só para citar alguns) como o Romantismo, Barroco, Arcadismo, Naturalismo e Modernismo?
     Seríamos quem sabe a nação mais atrasada no campo do conhecimento. E não estamos longe dessa afirmativa. Apesar da economia pujante, como brasileiro, me entristeço ao saber que ainda somos a nação com pior desempenho em leitura, embora tenhamos grandes quadros literários, e porque não dizer da indústria literária cada vez mais feliz nas produções.
     Pesquisa realizada em 2010 apontou o Brasil como 53º país na lista em desempenho de leitura. No entanto, penso que dados como esses dizem muito pouco. Até porque nunca perguntaram quantos livros, eu e os meus amigos mais próximos, costumamos ler durante o ano. Em 2010, pelo menos eu li seis. Pouco, penso, mas os li. Contudo, do pouco que dizem as pesquisas, para uma coisa é importante acordar: a necessidade de incentivo a leitura.
     Na antiguidade, a leitura, como bem contou o filme ‘O nome da Rosa’, do crítico literário italiano Umberto Eco, era o bem mais precioso. No contexto, o livro proibido era do filósofo Aristóteles.  Proibida para todos os homens, a leitura daquela obra significava a libertação de correntes da igreja que pregava a centralização do poder. A igreja não queria ser questionada, da mesma forma que os ditadores da nossa história e os da atualidade brasileira e internacional não querem.
     Mas estamos falando de poesia. Uma arte que liberta e diz a todos Carpe Diem. Agora imagine como e o que seríamos sem a poesia de Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Cora Coralina, Jorge Tufic, Luiz Bacellar e Thiago de Mello (mais uma vez só para citar alguns)?
     É difícil de imaginar, até porque muito do que aprendemos nos chegaram de forma transversal. Assim, sem querer querendo. E, no mundo de hoje, essa arte parece cada vez mais distante das salas de aula, das praças e do encontro de amigos, como ocorria em Manaus, debaixo de um Mulateiro, na década de 50, com o Clube da Madrugada.
     O resgate é necessário sob pena de termos que colher uma sociedade cada vez mais individualista, de cada vez menos leitores dos livros e do mundo.
     Um bom exemplo de como fazer esse resgate começa a ser estruturado por uma nova geração de poetas amazonenses. Jovens que compõem grupos como: a Sociedade Cultural da Marmota, o Clube Literário do Amazonas e o Grupo Metamorphose. Gente que há algum tempo vem trabalhando para levar a poesia para os outros, produzindo poesia e promovendo encontros para apresentá-los aos demais.
     Na próxima segunda-feira (14.03.2011), Dia Nacional da Poesia, essa nova geração de poetas amazonenses se encontrará com poetas já consagrados, num sarau para mais de 500 estudantes das escolas municipais das Zonas Norte e Leste de Manaus. O encontro será realizado, às 14h, patrocinado pela Prefeitura de Manaus, no anfiteatro do Jardim Botânico Adolpho Ducke, bairro Cidade de Deus, Zona Norte.
     Coordenador do evento, o diretor executivo da Secretaria Municipal de Juventude (Semje), Ivan Brito, disse que poetas como Thiago de Mello, Celdo Braga e Tenório Telles, por exemplo, dividirão palco com novos escritores da Sociedade Cultural da Marmota, Clube Literário do Amazonas e Grupo Metaphora.
     O coordenador do Clam, professor e poeta Nelson Castro, disse que o encontro é o primeiro de muitos de 2011 que buscarão promover a educação por meio da arte. Segundo ele, os novos poetas que estão organizando o encontro já vêm de algum tempo estudando e se formando para apresentar um bom trabalho para a sociedade, e com isso incentivar a leitura e surgimento de novos escritores.
     Como membro da Sociedade Cultural da Marmota, digo que a leitura como libertação pode e deve ser encarada como política pública de Estado, mas, é claro, dentro de uma fórmula pedagógica que não a coloque como obrigação. Até porque a poesia como arte e o poema como obra devem ser a introdução de homens e mulheres à leitura do próprio mundo.

Por Emerson Quaresma


Um comentário:

  1. Pois é Colega Poeta. Quem gosta de poesia? Como te disse lá no Twitter, acho que muita gente gosta. Sempre que sabem que sou poeta (poucos sabem) sou rodeado; pedem pra falar algo, escrever, etc. Existe sim esse "gostar" nas pessoas, porém ele difere entre cada uma delas e nem sempre a poesia minha agrada a quem se agrada da tua, e vice-versa. Veja nós poetas, sempre tendemos a gostar de uma certa época, linha, etc. É isso que acho lindo na arte poética: sua diversidade.

    Abaixo uma que descreve um pouco da nossa sina:

    Sina de Poeta

    “Esse menino tem futuro”
    Diziam pro pobre coitado
    Que de tanto ser lambido
    Ver seus sonhos mal tratados
    Já não era mais menino
    Era jovem e bem formado.

    Tinha até uma namorada
    Pra quem versos ele fazia
    Ela toda admirada, lia, lia e relia
    E em seus olhos exclamava;
    “Você é um poeta, meu poeta”
    E assim ele sonhava...

    Demorou o tempo certo
    E com isso ele cresceu
    Ficou velho escrevendo
    Coisas que ninguém leu.

    Como é sina nesta vida
    Viveu, viveu e morreu
    Sem ver o sonho crescer.

    Até que um dia um alguém
    Mexendo nos seus deixados
    Encontrou que por acaso
    Muitos escritos largados
    E botou-se então a ler
    “Mas que belo” exclamou
    “Era um gênio este escritor”
    Fez de tudo vários livros
    De poemas, sonetos e estórias.
    Fez seu nome renascer:
    João Brasileiro da Mata
    -O poeta sem viver-
    Que abrindo aspas proclamo:
    “Pra viver, precisou morrer”

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