Milagre

"Olhar a orquídea é ter tempo para a vida, e reconhecer nela o milagre que nos permite caminhar todos os dias", Quaresma..

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Absurdos Brasileiros. E nós com isso?

Reajuste imoral dos salários dos congressistas, o CNJ dando aposentadoria compulsória a magistrados envolvidos com criminosos, começo a pensar que a palavra 'absurdo' é pouco.

Toda indignação é pouca para reclamar de alguns absurdos do nosso imenso Brasil. A raiva aumenta quando eles são jogados na cara do povo, como rajadas de metralhadora. É um absurdo atrás do outro noticiado pelo quarto poder. Para aguentar os bombardeios das aberrações, somente nós brasileiros, que como bem disse um redator publicitário (e os empresários acreditaram nisso) “não desistimos nunca” de nós mesmo.
     Mas, não vim aqui para discorrer sobre a nossa insistência em nos manter em pé, e na torcida por dias melhores como trabalhadores e cidadãos (alguns se aceitam como vagabundos) que somos. Quero apenas traçar um paralelo de alguns absurdos brasileiros com a nossa falta, não só de coletivismo (como na época do regime militar), mas também com a inoperância de instrumentos que poderiam representar de forma legal (já que somos uma nação dotada de leis) a nossa repulsa contra aquilo que não compactuamos, com o que é imoral.
Congressistas reajustam salários com velocidade nunca vista
antes para temas de relevância para a sociedade brasileira
     Os absurdos começam pelos Poderes constituídos do País, especialmente pelo Legislativo, formado por homens que fazem as leis. Esses senhores, numa prova desnuda do seu valor, fazem valer com fé o velho ditado: farinha pouca, meu pirão primeiro. Por isso, a imoralidade dos nossos congressistas mostra mais uma vez como cabem no playlist do País, mais e mais trilhas sonoras de absurdos brasileiros. Hoje, dia 15 de dezembro, mais rápido que o The Flash, os deputados federais e logo depois os senadores, aprovaram o aumento dos seus salários para R$26,7 mil, um reajuste privilegiado de 61,83%. Os beneficiados são os 513 deputados federais e os 81 senadores da nossa velha e generosa republiqueta.
     O pior de tudo dessa aprovação relâmpago é o chamado ‘efeito cascata’. Mais impiedoso que os tornados norte-americanos, o ‘efeito cascata’ fará com que deputados estaduais e vereadores sejam também beneficiados com gordos aumentos dos seus salários. A remuneração de um parlamentar estadual corresponde 75% da recebido pelo deputado federal. Na sequência, os vereadores, pelo menos os da capital, são contemplados pelos mesmos 75%, só que desta vez correspondente a folha de um deputado estadual.
     E para quem já treme ao pensar que o assalto (de forma legal, mais imoral) aos cofres públicos será ruim ao somarmos tudo para saber o quanto será essa oneração mês e ano dos congressitas, é preciso tomar muito suco de maracujá para não tremer quando somarmos os reajustes dos 1.059 deputados estaduais, e dos 57.748 vereadores eleitos pelo povo brasileiro nas últimas eleições. Começo a pensar que a palavra ‘absurdo’ é pouco para toda essa tremenda sacanagem que os congressistas aprontaram conosco. Feliz mesmo, somente eles, e o palhaço Tiririca que chegou ao Congresso Nacional, em sua primeira visita, dizendo "Acho bacana, acho legal. Dei sorte", se referindo a aprovação do novo salário.
     Outro grande e feio exemplo dos absurdos do Brasil é a tal da Aposentadoria Compulsória, como punição aos homens chamados pelo Estado para resguardarem as leis (juízes, promotores e procuradores), acusados de algum crime ou infração. Há tempos venho questionando essa incoerência nas decisões do Judiciário. Situação chamada muitas das vezes de corporativismo barato, para a qual mais cabe a palavra ‘perversão’.
     Ontem, por exemplo, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ao comprovar a participação direta dos juízes amazonenses Hugo Levy e Rômulo Fernandes, com os esquemas de crimes montados pelo ex-prefeito de Coari, Manoel Adail Pinheiro, deu aos nobres magistrados aposentadoria compulsória. O mesmo prêmio foi concedido ao ex-promotor de justiça Walber Nascimento pelo Ministério Público, quando descobriram uma relação estranha dele com o traficante Flávio Augusto Coelho de Souza, o Flavinho da 14 (já morto). Esse traficando tinha ligação com o caso do ex-deputado Wallace Souza, acusado a época pelo Ministério Público dos crimes de homicídio, tráfico de drogas coação de testemunhas, porte ilegal de armas e formação de quadrilha.
     E como já foi dito, a aposentadoria compulsória nesses casos é na verdade um belo prêmio a quem recebe. Por quê? Porque, uma vez que a figura deixa de exercer sua função como homem que deve resguardar a lei, e não deturpá-la, ele vai curtir com a família os mais de R$ 20 mil de aposentadoria que saem pela força do direito dos cofres da Previdência Social. Lesos, não... Hugo Levy, Rômulo Fernandes e Walber Nascimento, por exemplo, estarão por aí neste instante (preocupados talvez com o fim das carreiras), mas sem a dor do Luiz, da Sandra, do Antônio, da Roberta e de muitos outros brasileiros que não conseguem um emprego para aliviar o sofrimento de seus pais que penam nas filas no INSS.
     Assistindo, lendo e ouvindo situações como essas, a indignação cabe aos homens e mulheres de bem. Mas, ela não consegue alcançar níveis beligerantes para mudar de fato a regra do fisiologismo nacional. Com braços, pernas, voz rouca, mas sem caminhos, me resta perguntar aqui um questionamento de um amigo, numa conversa rápida comigo pelo twitter: “E eu fico pensando: para que serve o Ministério Público? Para entrar com ações contra donos de bares, contra quem derruba árvore e contra vereador”. E por favor, não me venham com o discurso fácil, institucional e “clichê demais”, como diria outra amiga de profissão.

Por Emerson Quaresma

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